segunda-feira, 5 de julho de 2010

Maria Marola

Maria era mediocremente a mesma, já havia 25 anos. Duas décadas e meia esperando a vida começar. Para mudar uma vírgula em sua existência, levaria outros 25, e depois, era até capaz de morrer por falha na mediocridade. Nem sequer ia com as outras, pois lhe faltava coragem de ir acompanhada. Maria Marola. Vivia de olhar as ondinhas ordinárias quebrando na praia de Olinda, sentada à beira-mar, sem entrar jamais na água por medo de não ser mais a mesma. Marolando, marolinha, marolhando, eis que viu. Ali, na areia, uma estrela do mar. Parecia ainda viva. Maria olhava, o coração a bater-lhe nas têmporas, mas cadê coragem pra dar alguns passos e levantar a estrela da areia para lançá-la ao mar, que lhe é de direito... A estrela de papo pra cima até parece com Maria. Indiferente. Imóvel. Inábil. Mas viva, ainda respirante. Até quando? Maria se enchia de raiva da estrelinha que, coitada, continuava a tostar ao sol, esperando alguém que a levasse ao seu lugar. Passaria 25 anos assim, até se calcificar e não saber mais voltar para as águas que se movem. Maria levantou-se e andou até a estrela, olhando para um lado e outro, a ver se ninguém a via. Primeiro, tocou a estrela com a ponta do pé, depois empurrou-a para um pouco mais perto do mar, com um pedaço de pau que achara no chão, deixou a estrelinha bem perto das ondas que vinham quebrar na areia, mas, quanto mais as ondas tocavam a estrela, mais esta se enfiava na areia molhada, resistindo. Maria Marola sussurrava: vai estrelinha, vai com as ondas. E nada, a estrela lá, enfiada na areia, bravamente lutando contra seu destino. Maria desistiu, voltou a olhar o mar. De vez em quando, não resistia, olhava: a estrela continuava lá. Já declinava o dia e Maria não aguentava mais aquela imobilidade, decidiu jogá-la à força dentro do mar, que era seu lugar. Mas a estrela, incansável, parecia decidida: não entraria nas águas salgadas de onde a custo saíra. Esperava era a noite descer e, numa mão em concha, levá-la para o céu, ao lado das suas irmãs-estrelas-de-verdade. Isso de viver no mar já era. Queria viver em outras imensidões. Maria, com o coração marolado, não acreditava nessa mudanças. Ao perceber que não veria resultado para os seus esforços, foi para casa. No dia seguinte, ao voltar à praia, viu o local onde encontrara a estrelinha: estava vazio, com rastros de pontas estelares. O mar a arrastou? Ou brilharia agora nas alturas? Maria, sem saber, apenas marolhava...