domingo, 10 de julho de 2011

Reflexões de Julia Puebla

Meus caminhos têm curvas sinuosas para me lembrar de ter cuidado. Têm árvores de raízes douradas, soterradas até o meio do tronco, para me lembrar da busca necessária. Não ando sozinha, acompanham-se centenas de eus que vivem em tempos diferentes e jamais morrem totalmente. Não existe paisagem à minha frente, é tudo em branco, à espera do colorido que dou. Então, sigo colorindo. Mas, se paro, as tintas todas, por inércia, seguem seu trajeto e, sem mãos que as guiem, espalham cor para todos os lados.

Só me resta concluir que é necessário parar para renovar a criatividade. Mas devo lembrar que essas paradas devem ser curtas, do tamanho apenas de um suspiro, para não comprometer a memória de como se anda. Às vezes, um ou outro desses eus seguram mãos de um tu, às vezes as mãos não se deixam soltar, às vezes esbarram num perfume alheio ou em cores de não-eu. Tudo o que vem de fora é instantaneamente agarrado, como se fosse necessário fugir do que é meu. Ilusão – quero apenas acrescentar ao meu espectro de luz visível as luzes que antes não via. Surpreende-me, então, surpreende-me sempre com cores novas, com perfumes só teus, com o esboço de um rosto meu na tela da tua vida, surpreende-me e te seguirei sem medo, a todos os tus que tu és.

Suspende-me entre o húmus e a nuvem carregada, remove a terra e mostra-me cada uma das raízes: mostra-me uma a uma, pelo tempo de uma vida, de forma que, durante meu último segundo, ainda haja o que descobrir. Pois, até quando te respiro, me sou. Sigo um caminho-sem-setas-ou-placas que me leva invariavelmente a mim e de mim só pede que preste atenção à paisagem que vai ficando para trás.

Pois na paisagem se acham meus inúmeros retratos. E um deles é teu.

Aquele que acabou de cair.