sábado, 30 de maio de 2009

Tenho sede!

Tudo o que possuo agora é uma imensa sede. Bebo litros de água que fazem meu estômago pesar e não aplacam a secura que me toma. Tenho sede dos que queria ter a meu lado; sede do que não fui nem serei; sede dos planos desfeitos, que joguei fora com minhas mãos insanas; sede dos sonhos bons durante o sono e do despertar tranqüilo que se seguia; sede de saber onde tudo vai dar. Não consigo sentir em meu corpo nada além da garganta seca a reclamar uma água que não possuo. Aliás a essa altura do dia sedento que vivi, a sede não se resume à garganta, me devora todos os sentidos. Tenho sede e sinto a angústia de quem, prestes a morrer, recebe, em vez de água, vinho acre numa esponja. Penso no rico que implorava a permissão de Deus para que Lázaro pingasse uma gota de água em sua língua. Minha sede não é a mesma do rico: a própria idéia de uma mísera gota de água para tamanha sede que tenho me enerva. Uma gota seria pior do que nada, seria a confirmação da impossibilidade. Aumentaria minha sede. Tenho sede! Dos abraços que neguei a mim mesma; dos aromas que não sinto mais; de cores que nunca vi; de saber exatamente onde quero chegar e como; da segurança de escolher milhões de caminhos possíveis, mesmo sabendo que nenhum deles me proverá escape na hora da fuga. Tenho sede da paz que já não sinto; do amparo que já não tenho; da vida com sabor de lembrança boa que se vai guardar. Tenho sede! Sede que já toma minha pessoa inteira. Sede que se apodera de quem já fui e de quem sou. Sede que tolhe o que eu poderia ser. Tenho muita sede de outro mundo, onde todos se amem e se respeitem, onde haja segurança nos sorrisos e inexistam ameaças nos afagos. Tenho sede de afeto, de família, de esperança. Sede de consertos. O mundo se mostra a meus olhos sedentos um grande deserto onde nem o ar possui umidade, onde nem é possível uma miragem que alivie a angústia por alguns segundos. Dizem que a sede mata. Mas não a minha. A minha só tortura, e queima e mutila, sem conceder o alívio da morte. Sede que resseca de dentro para fora, deixando mera casca prestes a incendiar-se. Casca sem seiva, sem vida, sem nada que umedeça o mundo. Tenho sede, imploro por água. Imploro pela água certa que me alivie a secura do ser, pois a água mineral não resolve. Tomei litros e litros. Simplesmente não resolve. A garganta não pára de clamar que tem sede nem quando sorve as lágrimas produzidas com a água ingerida. Tenho a sede do cosmo dentro de mim. Sede infinita da qual não se morre. Nem se vive...

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