sábado, 17 de outubro de 2009

Entre o verde e o azul...

O garoto subiu no ônibus para pedir esmolas. Até aí, nenhuma novidade, os habitantes de nosso século veem, com frequência até demasiada, cenas como essa. Mas o que aconteceu a este garoto, só eu vi. Tão pequeno ele era, que nem conseguia pronunciar com clareza as palavras decoradas, que alguém lhe ensinou. Pedia mais fluentemente através dos olhos verdes que da boca gaga. Na mão, carregava uma bola, dessas de festa, com uma estampa impressa. Era seu brinquedo. Não sei como arranjou aquela bola, azul com estampa colorida, bonita e bem cheia. Enquanto pedia, tentava guardá-la numa sacola plástica. Foi então que ocorreu a fatalidade: algo na sacola fez com que a bola estourasse... O estrondo assustou o garoto, mas ele não derramou nenhuma lágrima. Apenas continuou pedindo, agora com seus olhos muito mais verdes. Olhei o menino, imaginei o que seria dele daqui a dez ou quinze anos... Sua voz gaga fazia um eco em mim – tão grande que meu coração de vidro entrou em ressonância e se partiu. Quantas vezes carregamos com cuidado nossos sonhos – azuis, festivos, bonitos – tentando protegê-los. E quantas vezes assistimos impotentes a sua destruição completa, enquanto pedimos, com o mar nos olhos, as esmolas de compreensão daqueles que existem a nosso redor. Talvez daqui a dez anos o garoto consiga chorar... Talvez um dia esvazie o verde de seus olhos... Até lá, a humanidade continuará tentando proteger seus sonhos e inundando as ruas com olhos que se secam e mudam de cor. Talvez daqui a dez anos, o garoto e eu consigamos perder o verde do nosso olhar mendigo. Mas receio que eu me afogue no mar que se formará...

Um comentário:

  1. Gostei das imagens, Violet! Mas será que é mais uma co-incidência que nos assola - ou, por isso mesmo, a que nos impulsinoa - o fato de o peixe grande está em azul? Será que o receio de se afogar não é o medo de crescer? Talvez, aprender a sonhar novos sonhos exija saber, mais e melhor, aprender a nadar.

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